terça-feira, 3 de agosto de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sobre Jacques Lacan

Foi o blog @topia do meu amigo Filipe Pereirinha http://www.naoseiquediga.blogspot.com/ que me deu o caminho para o vídeo que ofereço aqui, para os que querem conhecer um pouco dessa figura fascinante e controvertida do século XX. Como sabem Jacques Lacan viveu entre 1901 a 1981 e foi o grande leitor e continuador de Freud.



Jacques Lacan - Reinventar el psicoanalisis - Documental from PsicoBlog on Vimeo.
O fim da análise


Uma ex-paciente minha enviou-me o primeiro texto abaixo. Enviei este texto a outras pessoas que tiveram uma experiência analítica. Sem que eu esperasse começou a haver um diálogo que me pareceu muito interessante. Decidi então pedir licença às pessoas envolvidas para levar a público o diálogo e esperar outras contribuições. Omito o nome das pessoas e de seus respectivos profissionais. Convido os caros leitores a continuarem o diálogo enviando-me vossas experiências que eu publicarei sem revelar a identidade de cada um/a (se assim o desejarem) para calasansrodrigues.selma@gmail.com



Diálogo sobre a cura e o fim da análise

Internauta: Há dez anos faço análise, iniciei quando fui diagnosticada com depressão crônica, me tratei com antidepressivos por um ano e meio. Nos momentos em que quis voltar à medicação, me convenci, conduzida pela analista, de que já aprendera a dar conta de meus dilemas sem remédios. No entanto me pergunto: quando não mais precisarei das palavras de um psicanalista? Qual sua opinião sobre o "fim de análise"?



Luciana: Consideremos a análise como uma viagem sem destino certo, movida pelo desejo de se conhecer. O analista escuta atentamente, sem julgamentos morais, o paciente que não sabe muito sobre si. Desse movimento de inclinação para o outro surge uma dupla de trabalho permeada por uma função chamada psicanálise, que revela aspectos desconhecidos ou encobertos, de pelo menos um dos integrantes dessa dupla – o analista também aprende muito sobre ele mesmo, diga-se de passagem. Quando esse tipo de vínculo é frutífero para ambos o desligamento é doloroso, pois a conquista de um espaço afetivo de reflexão, que comporta um tipo de intimidade sui generis, é valiosa. Nesse caso o fim da análise se daria como uma renúncia possibilitada pela internalização da função do analista pelo paciente, que já aprendeu como se pensar e se sentir.



Há também situações em que o paciente não incorpora ou não consegue dar continuidade, solitariamente, ao trabalho analítico. Pode ser que ele se mantenha numa posição infantil, com medo da autonomia - falar e fazer em nome próprio – ou pode ser, que a vida traga sofrimentos intransponíveis. Seja como for, a cura analítica ocorre de forma semelhante à cura dos queijos. Cada um de nós é como um queijo, que submetido ao processo analítico pode ficar no seu melhor ponto, um queijo maduro, mas não é possível transformar um queijo branco em queijo brie ou parmesão.

Uma segunda opinião de uma amiga que fez análise, R. B. :

Acho que quando se chega ao fim da análise a pessoa levanta-se do divã e esgotou o que tinha a dizer. É como quando uma criança começa a andar sozinha. Contudo, mais tarde, pode, por vezes, ter necessidade de um analista para colocar certas questões e para ser ajudada a reflectir, uma vez que foram aparecendo novas situações na vida e a própria pessoa pode perspectivar as coisas de outra maneira. Poderá recorrer a um analista ou eventualmente a outro psi ou conhecedor da vida.

A terceira opinião C.S.:

O texto da R. achei interessante. Mas, discordo no seguinte aspecto: a gente sempre tem algo a dizer, não levantamos do divã por não ter nada mais a ser dito. Terminar a análise, eu acho, é internalizar o divã. E talvez por isso algumas pessoas afirmem que o fim da análise acontece quando o analisando torna-se analista. Penso que o fim ocorra quando o divã é internalizado, quando o diálogo continua, dentro de nós mesmos. E o analista nos leva a conseguir essa autonomia. Percebemos que tem muito a ser dito, mas podemos ter esse espaço sagrado dentro de nós, e falarmos lalangue ou alíngua*, não interessa, podermos falar, confiar em nosso espaço interior. No meu caso, eu sempre estive no divã, mas nunca havia tido tanta sintonia com uma analista. E pude ver todo o processo ocorrendo, o de transferência, o objeto pequeno a e a possibilidade de autonomia. Não fecho essa porta de forma alguma, se precisar peço sos novamente. Mas, terminar a análise significa estar pronta para dar um voto de confiança para nossa interioridade. Penso que seja isso.